A Ignorância na Sociedade
Sagrado, nos ditos proféticos, em muitos livros de História e também por
muitos escritores e pensadores. O Alcorão Sagrado utilizou esta palavra no
seguinte versículo:
“Anseiam, acaso, o juízo do tempo da insipiência? Quem melhor
juiz do que Deus, para os persuadidos?” (C.5 - V.50)

Em outra passagem:
“... e não façais exibições, como as da época da idolatria...”
(C.33 - V.33)
O Profeta Mohammad (S.A.A.S.) a utilizou em seu dito relatado por
seu descendente, o Imam Jafar ibn Mohammad Assadeq (A.S.):
“Os mandamentos se dividem em dois: o mandamento divino e o
dos povos ignorantes. Sendo assim, quem errar em seguir o primeiro
estará seguindo o segundo”.
O Imam Ali (A.S.) a empregou para comparar a situação do povo antes
e depois da revelação ao Profeta Mohammad (S.A.A.S.):
“Deus enviou o Profeta (S.A.A.S.) num tempo em que os povos se
desviavam em confusão, e se moviam daqui para lá em meio a
desmandos. Os desejos os dobravam e o auto-apreço os extraviava. A
ignorância extrema os tornava tolos. Ficavam confundidos pela irregularidade
das questões e pelos males da ignorância. Então, o Profeta
(S.A.A.S.) fez o melhor no sentido de lhes dar conselhos sinceros, ele
próprio trilhando a senda reta, conclamando-os a que chegassem à
sabedoria e ao bom conselho.”
Depois de ler estas frases explicaremos melhor o significado da ignorância,
esta que, dentro do Islam, significa a perdição, o desvio do caminho
de Deus e a não aceitação da devoção.
A palavra ignorância, como algumas pessoas imaginam, não é específica
de uma época vivida pelos árabes pré-islâmicos, mas, uma palavra
cujo significado estende-se a toda pessoa, governo ou sociedade
que não crê em Deus e não pratica suas ações de acordo com Seu método.
A tais sociedades ou povos antigos, foram enviados Profetas, como
Noé, Abraão, Moisés, Jesus e Mohammad (A.S.), e ainda assim, a ignorância
ainda é atribuída à muitas pessoas e sociedades contemporâneas,
e às futuras gerações, que não crêem em Deus e que não se orientam
pela Mensagem Divina, independentemente de sua sabedoria e conhecimento
científico-social. Os árabes, antes do Islam, foram alcunhados
de ignorantes por estarem longe do caminho de Deus e das mensagens
proféticas, assim como outros povos ignorantes.
Os atributos de uma sociedade ignorante
As sociedades ignorantes possuem certos atributos comuns, os quais
foram citados em muitos versículos do Alcorão Sagrado. Neles podemos
compreender a natureza de um indivíduo ou de uma sociedade ignorante. O
Alcorão Sagrado esclarece-nos sobre os atributos mais comuns:
1. A perca da crença;
2. A perdição espiritual;
3. Práticas desviadas e maléficas;
4. A injustiça e a cobiça;
5. A ganância;
6. Pânico e raiva.
Na medida do que for preciso, explicaremos, de acordo com o Alcorão
Sagrado, o que é a sociedade ignorante:
A perca da crença:
No decorrer da História da humanidade sempre existiu seres perdidos,
descrentes em Deus e que nunca respeitam suas leis, logo, estas pessoas
serão chamadas de ignorantes, pois a idolatria e a descrença em Deus são
bases da ignorância enraizada na construção e nos princípios das vidas dos
ignorantes. Dentro desta estrutura há muitos costumes e crenças comuns
aos povos anteriores, aos contemporâneos e às gerações futuras.
O Alcorão Sagrado esclarece esta afirmação da seguinte forma:
“Porventura não percorrem a terra, para observarem qual foi o
destino dos seus antecessores?Foram mais vigorosos do que eles, cultivaram
a terra e a povoaram melhor do que eles. Seus mensageiros lhes
apresentaram as evidências. Não foi Deus Que os prejudicou, mas foram
eles mesmos que se condenaram. E o destino daqueles que cometeram
o mal será pior, pois desmentiram os versículos de Deus e deles
escarneceram!” (C.30 – V.9 e 10)
O Alcorão Sagrado esclarece por meio de um outro versículo a questão
do pensamento comum dentro da sociedade ignorante:
“Os néscios dizem: “Por que Deus não fala conosco, ou nos
apresenta um sinal?” Assim falaram, com as mesmas palavras, os seus
antepassados, porque os seus corações se assemelham aos deles.
Temos elucidado os versículos para a gente persuadida.” (C.2 – V.118)
Nesses dois versículos, o Alcorão Sagrado esclarece-nos que antes dos
árabes houveram muitos povos descrentes que não acreditavam em Deus,
em Suas mensagens e até em Seus profetas; suas palavras eram uma só e
seus corações eram iguais. Qualquer povo que não crê em Deus, em Seus
Anjos, em Seus Livros, em Seus Mensageiros e no Dia do Juízo Final é
uma nação perdida na escuridão, sendo esta a verdadeira nação ignorante.
Deus, louvado seja, disse no Alcorão Sagrado:
“...Em verdade, quem renegar Deus, Seus anjos, Seus Livros,
Seus mensageiros e o Dia do Juízo Final, desviar-se-á profundamente.”
(C.4 – V.136)
2. A perdição espiritual
O segundo atributo de uma sociedade ignorante é a perdição espiritual,
e quanto a ela, Deus, louvado seja, disse:
“Em seus corações há morbidez, e Deus os aumentou em morbidez,
e sofrerão um castigo doloroso por suas mentiras” (C.2 – V.10)
“Que afastam os demais da senda de Deus, anunciam-na tortuosa
e negam a vida futura” (C.7 – V.45)
Deus, louvado seja, criou o ser humano numa perfeita formação, sem
qualquer perda ou doenças mentais e espirituais, sem orgulho, inveja, aspereza,
cobiça, etc. E, para que o indivíduo permaneça verdadeiramente saudável,
viva numa sociedade justa, sem crimes e injustiças, ele deve proteger
sua personalidade contra todas as doenças espirituais, as quais o orientam
para o crime, inimizade, homicídios, mentiras, opressão, idolatria; enfim,
torna-se um criminoso que não aceita a verdade e a justiça, podendo
destruir vidas humanas e preencher a Terra com injustiça e opressão.
A nação contemporânea enfrenta todo tipo de injustiça e de sofrimento
devido ao secularismo a que ela se submeteu, contrariando a verdadeira
personalidade de justiça, bondade e amor, ensinada por Deus.
3. Práticas desviadas e maléficas
Outro atributo de uma sociedade ignorante é a prática de infâmias e
malefícios, tais como: obedecer ao ego de uma maneira errada, cometer
adultério, consumir bebidas alcoólicas, dança e outras práticas que destroem
a sociedade e originam doenças físicas e espirituais.
Ao encontrarmos uma sociedade que pratica tais atos, saberemos que
ela não é orientada corretamente e que é infiel às jurisprudências divinas.
O Alcorão Sagrado esclarece sobre as práticas comumente erradas dentro
“Sois como aqueles que vos precederam, os quais eram mais poderosos
do que vós e mais ricos em bens e filhos. Desfrutaram de sua parte dos
bens e vós desfrutais da vossa, como desfrutaram da sua os vossos antepassados;
tagarelais, como eles tagarelaram. Suas obras tornar-se-ão sem
efeito, neste mundo e no outro, e serão desventurados.” (C.9 – V.69)
E também:
“Quando estes cometem uma obscenidade, dizem: Cometemo-la
porque encontramos nossos pais fazendo isto; e foi Deus Quem
no-la ordenou. Dize: Deus jamais ordena obscenidade. Ousais dizer de
Deus o que ignorais?” (C.7 – V.28)
E Deus, louvado seja, revelou:
“E de quando Lot disse ao seu povo: Verdadeiramente, cometeis
obscenidades que ninguém no mundo cometeu, antes de vós. Vós vos
aproximais dos homens, assaltais as estradas e, em vossos concílios,
cometeis o ilícito! Porém, a única resposta do seu povo foi: Manda-nos
o castigo de Deus, se estiveres certo.” (C.29 – V. 28 e 29)
Em outro versículo:
“... e não façais exibições, como as da época da idolatria...”
(C.33 – V.33)
E também:
“…Não inciteis as vossas escravas à prostituição, para proporcionar-
vos o gozo transitório da vida terrena, sendo que elas querem viver
castamente.…” (C.24 – V.33)
E disse Deus, louvado seja, no seguinte versículo:
“O adúltero não poderá casar-se, senão com uma adúltera ou uma
idólatra; a adúltera não poderá desposar senão um adúltero ou um
idólatra. Tais uniões estão vedadas aos fiéis.” (C.24 – V.3)
E ainda, em tais versículos:
“Evitai a fornicação, porque é uma obscenidade e um péssimo
exemplo” (C.17 – V.32)
“Os incrédulos, dentre os israelitas, foram amaldiçoados pela boca
de Davi e por Jesus, filho de Maria, por causa de sua rebeldia e profanação.
Não se reprovavam mutuamente pelo ilícito que cometiam.
E que detestável é o que cometiam!” (C.5 – V.78 e 79)
“Sucedeu-lhes, depois, uma descendência, que abandonou a oração e
se entregou às concupiscências. Porém, logo terão o seu merecido castigo.”
(C.19 – V.59)
“Ó fiéis, as bebidas inebriantes, os jogos de azar, a dedicação às
pedras e as adivinhações com setas, são manobras abomináveis de Satanás.
Evitai-os, pois, para que prospereis.” (C.5 – V.90)
Através da leitura de poucos versículos, percebemos que a prática de
infâmias e malefícios são comuns a muitas sociedades que cometem os
mesmos erros e cujo caminho é o da perdição. Ao notarmos que uma sociedade
apresenta tal comportamento, nossa obrigação é modificá-la afim de
melhor propagar o Islam e proibir atos errados.
4. A injustiça e a cobiça
O Alcorão Sagrado explica que a cobiça é uma característica peculiar
da vida ignorante. O indivíduo que sofre desse mal é injusto politicamente,
abusa da fraqueza dos demais, alastra a desgraça e o derramamento de sangue,
além de guiar a sociedade ao ateísmo e a perdição.
A cena descrita, no parágrafo acima, é retratada atualmente pelas potências
econômicas e pelos países miseráveis. Governantes de países ricos subjugam
os demais povos, impondo seu poder político sobre os mais fracos, e não
permitem seu desenvolvimento tirando deles todos os seus bens e riquezas.
Deus, louvado seja, retratou essas cenas, nos seguintes versículos:
“E se não credes em mim, afastai-vos, então, de mim.(Moisés)
exclamou, então, para o seu senhor: Este é um povo pecador”
(C.44 – V.21 e 22)
“É certo que o Faraó se envaideceu, na terra (do Egito) e
dividiu em castas o seu povo; subjugou um grupo deles, sacrificando-
lhes os filhos e deixando com vidas as suas mulheres. Ele era um
dos corruptores.” (C.28 – V.4)
“Alerta aqueles que negam os sinais de Deus, assassinam iniquamente
os profetas e matam os justiceiros, dentre os homens, de
que terão um doloroso castigo” (C.3 – V.21)
20 Sayyed Hashem Al-Musaui Da orientação do Islam X - O Sistema Social no Islam 21
“E quando se retira, eis que a sua intenção é percorrer a terra para
causar a corrupção, devastar as semeaduras e o gado, mesmo sabendo
que a Deus desgosta a corrupção” (C.2 – V.205)
“E o Faraó, o senhor das estacas. Os quais transgrediram, na
Terra.E multiplicaram, nela, a corrupção” (C.89 – V.10 a 12)
“E o que vos impede de combater pela causa de Deus e dos indefesos,
homens, mulheres e crianças? Que dizem: Ó Senhor nosso, tiranos
desta cidade (Meca), cujos habitantes são opressores. Designamnos,
de Tua parte, um protetor e um socorredor!” (C.4 – V.75)
5. A Ganância
Outros atributos de uma sociedade ignorante que não crê em Deus são
o apego pela vida terrena e a ganância. Esta sociedade é egoísta, valoriza o
que é material, proporcionando a existência de duas classes sociais: uma
detentora de muito dinheiro e riquezas, que gasta e desperdiça afim de saciar
seus desejos e paixões, e para isso deposita milhões em bancos e cofres;
outra classe faz-se de pobres e necessitados, os quais não conseguem suprir
suas necessidades básicas.
A existência de classes passou a ser prejudicial quando certos grupos
usurparam bens materiais e riquezas alheias, investindo-as em empresas,
bancos ou algo do tipo.
As estatísticas revelam o nível de sofrimento dos povos pobres que são subjugados
por aqueles que detêm o poder e os capitalistas. Por dia, mais de 40 mil
crianças morrem de inanição, mais de 100 milhões de pessoas dormem famintas
e mais de 10 milhões de crianças são afetadas física e mentalmente pela fome.
Ao mesmo tempo, são gastos milhões de dólares no mercado bélico e
nuclear, a fim de submeter os mais fracos ao poderio de super potências,
tornando-os escravos. Estatísticas revelam que a cada minuto é gasto um
milhão de dólares com armas de alto poder de destruição. Ao entendermos
a problemática, compreende-se o porquê da exploração econômica sobre
os mais fracos por parte daqueles que detém poder e riqueza.
De fato, o Alcorão Sagrado menciona as características dos povos ignorantes,
o que podemos testemunhar nas sociedades atuais. Deus, louvado seja, fala sobre a
riqueza de Carun, o mais corrupto capitalista de sua época (época do Faraó):
“Em verdade, Carun era do povo de Moisés e o envergonhou. Havíamos-
lhe concedido tantos tesouros, que as suas chaves constituíam uma
carga para um grupo de homens robustos. Recorda quando o seu povo lhe
disse: Não exultes, porque Deus não aprecia os exultados” (C.28 – V.76)
Sobre o fim de Carun, uma vez que era de seu interesse apenas sua
riqueza e conseqüentemente a exploração alheia, o Alcorão Sagrado diz:
“Respondeu: Isto me foi concedido, devido a certo conhecimento que
possuo! Porém, ignorava que Deus já havia exterminado tantas gerações,
mais vigorosas e mais opulentas do que ele. Em verdade, os peca22
dores não serão interrogados (imediatamente) sobre os seus pecados.”
(C.28 – V.78)
O Alcorão Sagrado nos relata sobre o destino de Qarun e seus iguais, os
quais foram gananciosos e nada era o bastante pra eles, pois apenas juntavam
riquezas e proibiam as classes pobres de evoluírem materialmente:
“ E aqueles que, na véspera, cobiçavam a sua sorte, disseram: Ai de
nós! Deus prodigaliza ou restringe as Suas mercês a quem Lhe apraz, dentre
os Seus servos! Se Deus não nos tivesse agraciado, far-nos-ia sermos
tragados pela terra. Em verdade, os incrédulos jamais prosperarão”
(C. 28 – V. 81)
E Deus, louvado seja, menciona sobre os juros e a concentração de riquezas:
“Os que praticam a usura só serão ressuscitados como aqueles que
foram perturbados por Satanás; isso, porque disseram que a usura é o
mesmo que o comércio; no entanto, Deus consente o comércio e veda a
usura. Mas, quem tiver recebido uma exortação do seu Senhor e se abstiver,
será absolvido pelo passado, e seu julgamento só caberá a Deus. Por
outro lado, aqueles que reincidirem, serão condenados ao inferno, onde
permanecerão eternamente. Deus abomina a usura e multiplica a recompensa
aos caritativos; Ele não aprecia nenhum incrédulo, pecador”
(C.2 - V.275 e 276)
E em outro versículo diz sobre o ignorante que viveu na época dos profetas:
“E consumis avidamente as heranças. E cobiçais insaciavelmente
os bens terrenos” (C.89 – V. 19 e 20)
Essas passagens do Alcorão Sagrado explicam-nos sobre a natureza de uma
vida econômica cujo princípio é a injustiça e avidez, sendo que o Islam proibiu a
usura e a concentração demasiada de renda, pois há muitos necessitados.
6. Pânico e raiva
Outro mal que atinge uma sociedade ignorante é o medo e o nervosismo,
sentimentos que resultam na destruição espiritual e social, e uma vez
que isso atinge a sociedade cronicamente ela passa a apresentar distúrbios
psicológicos, acarretando na descrença em Deus, em Sua justiça e no desvio
às orientações divinas.
Aquele que não crê em Deus vive momentos de pânico e
desconcentração. Devido à raiva e ao nervosismo nada lhe agrada, logo,
sua vida transforma-se em sofrimento e dor, perdendo a tranqüilidade espiritual
e a noção de felicidade espiritual.
Sobre o medo, o Alcorão Sagrado diz:
“Que adorem o Senhor desta Casa. Que os provê contra a fome e
os salvaguarda do temor!” (C. 106 – V. 3 e 4)
Diz também:
“Em troca, quem desdenhar a Minha Mensagem, levará uma mísera
vida, e, cego, congregá-lo-emos no Dia da Ressurreição” (C.20 – V.124)
Sendo assim, através destes versículos, o Alcorão Sagrado esclarece a
noção de medo e intranqüilidade imbuída nas pessoas, muitas delas viviam
antes do Islam e a grande parte vive hoje, nas sociedades americana, européia,
japonesa, russa, etc.
A fonte de todo sofrimento espiritual e perda da felicidade é a descrença
em Deus, o que acomete centenas de milhões de pessoas. Conseqüentemente,
muitas passam a consumir bebidas alcoólicas ou até mesmo drogas ilegais,
e até mesmo cometem crimes passionais, suicídios ou coisas do tipo.
Assim sendo, uma sociedade ignorante desperdiça muito de sua vida.
As causas de seus problemas em questões políticas, econômicas ou educacionais
são o sistema e a ideologia ignorante.